A ascensão da inteligência artificial (IA) tem gerado intensos debates sobre o futuro do emprego, especialmente no setor de tecnologia. Afinal, a IA vai “roubar” empregos ou abrir novas portas? Para responder a essa questão, é essencial analisar dados concretos e o cenário atual do mercado de trabalho, considerando tanto os desafios quanto as oportunidades que essa transformação traz.
De acordo com o relatório “Future of Jobs” do Fórum Econômico Mundial (WEF), publicado em 2023, a automação impulsionada por IA e outras tecnologias pode eliminar cerca de 85 milhões de empregos globalmente até 2025. No entanto, o mesmo estudo aponta que essas mudanças também devem criar aproximadamente 97 milhões de novas vagas, superando as perdas. Essas oportunidades emergem em áreas como desenvolvimento de software, ciência de dados, cibersegurança e gestão de sistemas de IA. Isso sugere que, em vez de uma simples substituição, estamos diante de uma reconfiguração do mercado, onde tarefas repetitivas e mecânicas cedem espaço para funções que exigem criatividade, pensamento crítico e habilidades interpessoais.
No Brasil, o panorama é igualmente promissor, mas desafiador. A Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) estima que, até 2025, o setor de tecnologia demandará cerca de 797 mil novos profissionais. Contudo, há um déficit significativo: formamos apenas cerca de 53 mil especialistas por ano, enquanto a necessidade cresce exponencialmente. Áreas como programação, análise de dados e inteligência artificial estão entre as mais demandadas, mas a falta de mão de obra qualificada pode frear esse potencial. Esse gap reforça a urgência de investimentos em educação e requalificação profissional.
A IA, por si só, não “rouba” empregos — ela transforma a natureza do trabalho. Tarefas rotineiras, como entrada de dados ou triagem de currículos, já são amplamente automatizadas, permitindo que humanos foquem em atividades estratégicas. Por exemplo, um estudo da McKinsey (2023) indica que até 30% das horas trabalhadas em ocupações técnicas podem ser automatizadas até 2030, mas isso também aumenta a demanda por profissionais capazes de projetar, implementar e supervisionar essas tecnologias.
O mercado atual reflete essa dualidade. Empresas como Google, Amazon e Microsoft investem bilhões em IA, criando empregos de alto valor agregado, enquanto setores tradicionais, como manufatura e atendimento ao cliente, enfrentam redução de vagas operacionais. No entanto, a transição não é automática: exige políticas públicas e iniciativa privada para capacitar a força de trabalho. Programas como o “Reprograma” no Brasil, que treina mulheres para o mercado tech, ou plataformas globais como Coursera e Udemy, são exemplos de esforços nessa direção.
Em resumo, o futuro do emprego na tecnologia não é uma narrativa de substituição, mas de evolução. A IA eliminará algumas funções, mas criará outras, mais sofisticadas e humanas. O sucesso dependerá da capacidade de adaptação dos trabalhadores e da sociedade em investir em habilidades do futuro, como pensamento analítico, resolução de problemas e colaboração. O desafio está lançado: requalificar-se é o caminho para prosperar nessa nova era.